Cinema pra burro

(Ramon Porto Mota)

Prelúdio. Abre-alas de uma série.

Imaginemos a cena: rapaz universitário, dotado de certo interesse por cinema, um entusiasta (por assim dizer) destes de memória curta e alcance limitado, coloca sua retina nos antigos filmes do Cinema Marginal. Choca-se, tanto em termos de horror quanto em galináceos. Corta.

Digo isso não porque esse personagem-espectador não pudesse com os filmes, mas porque estes filmes não podem com esse tipo de espectador – imaginem com os outros. Em um país onde a “aristocracia espiritual” do cinema vendeu a alma e o corpo em troca de incentivos fiscais, onde a lógica mercado-produto é lei coronelista, e a tônica do cinema é o multiplex, torna-se um tanto incompreensível imaginar aquele rapaz abraçando um tipo de cinema tão distante do em que ele foi culturalmente educado. Para muitos é um problema do filme, não do espectador.

Interlúdio. Você sabe do que estou falando? Assim, que é Cinema Marginal?

Excluindo os termos de preservação da memória propriamente dita, há algum sentido em apreender a experiência da marginalia nos dias atuais? Digo, existem, nesses filmes pregressos, exemplos contundentes para os atuais e futuros filmes brasileiros, seus cineastas e espectadores?

Não seria uma atitude descabida ir de encontro a um cinema essencialmente de contramão, quando não se vê constituída, na sociedade atual, a necessidade de aprendizado de uma realidade passada tão aquém? E, pior, uma realidade difícil de ser abarcada por um pensamento lógico e racional, como impõe a nossa benqüista sociedade – ainda iluminista e propensa unicamente à compreensão lógica e racional?

Então, mereceria o Cinema Marginal e sua realidade transcendental ser esquecida? Seria este seu lugar no Brasil de hoje, para o público atual das salas de cinema? Custa-me acreditar que não, e por uma questão de fé. Sei que ainda há espaço para toda essa marginalia ao menos neste espaço aqui.

Pósludio. Apesar de todas as questões acima, este espaço designa-se à tarefa (ou ao menos tentará) de destrinchar o Cinema Marginal. Próxima edição, o resto.

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